domingo, 4 de outubro de 2015

Providence 04 - Extras

Providence 04 - Extras

Começando mais uma seção de referências para Providence, lembramos que as referências podem estar linkadas para sites em inglês. A capa usada por nós é a "Regular", mas há capas alternativas. A partir desta edição trarei algumas das capas variantes aqui.

Para a Edição 04 o conto base é "Horror de Dunwich", escrito em 1928 e publicado em 1929 nas páginas da revista pulp Weird Tales.
Recomendo também para vocês a adaptação cinematográfica deste conto, estrelada por Dean Stockwell em 1970. Aviso de antemão: é daqueles filmes trash que viraram "cult" depois de um tempo... Você pode encontrar este filme aqui, na pasta "Videos 02". Cortesia do mestre Eudes Honorato, o homem da Rapadura Açucarada!

Capas Variantes para Providence 01:





Capas Variantes para Providence 02:





Capas Variantes para Providence 03:





Capas Variantes para Providence 04:






Capa Regular

A imagem retratada é a casa da fazenda dos Wheatley em Athol, Massachusetts. Baseia-se na descrição da casa dos Whateley na fictícia cidade de Dunwich e em grande parte na casa que vemos no filme indicado.


Página 02

Os painéis desta página mostram o que parece ser uma "visão térmica" em primeira pessoa, assim como a que foi vista no filme "Predador" (e sequências). Sugere que os sentidos do observador não são humanos. No fim da edição vocês perceberão do que se trata esta página.

Endogamia foi um tema recorrente na obra de Lovecraft.

Página 03

Vimos o porquê de Black estar na barbearia nas páginas de seu diário.

O título da história, Macacos Brancos, se refere ao conto curto de HPL, A Verdade Sobre o Falecido Arthur Jermyn e sua Família, no original, Facts Concerning the Late Arthur Jermyn and His Family, que foi publicado originalmente em 1921 como The White Ape (O Macaco Branco). Aproveite o embalo e leia este ótimo conto também!

Os EUA já foram um lugar muito mais preconceituoso com relação a etnias africanas... e vemos que Moore não se furta a mostrar como isso era tristemente comum.

A técnica de corte de cabelo com fogo tem em inglês o nome de singe. É uma técnica em desuso e, francamente, se tem ou teve algum nome em português, não faço a menor ideia.

A garrafinha do meio é de um pós-barba de verdade, o Bay Rum aftershave.

Página 04

Nunca é demais lembrar: os Wheatley de Athol são a "versão Alan Moore" para os Whateley de Dunwich.

Hotel Pequoig: ver referência na edição 03.

A Campina Cass é uma área ao norte de Athol. Hoje é um parque de conservação ambiental.

Foi usado o termo "curandeiro" para traduzir "medicine man", já que o termo original tem mais significados do que caberiam no balão... mas "curandeiro" passa bem a ideia.



Página 05

Laroy Starrett refere-se a Laroy S. Starrett, fundador da empresa que leva o seu nome em Athol, Massachusetts (MA)

No terceiro quadro vemos o que provavelmente é a ponte da rua Main sobre o Rio Miller.


"(...) eles chegaram depois, vindos de Salem." — é uma referência ao êxodo de Salem devido à Caça às Bruxas.

Página 06

"(...) linhagens podem se degenerar com o tempo. intelectualmente, moralmente... e até fisicamente." — é uma sucinta recapitulação da crença de HPL na degeneração biológica. Tenham em mente que nessa época a hereditariedade já estava estabelecida, mas o DNA só foi descoberto bem depois disso.

Peles vermelhas é como os descendentes dos colonizadores europeus chamavam os nativos-americanos. Escalpelamento é a prática de remover o escalpo ou o topo da cabeça com o couro cabeludo; embora atribuída aos nativos-americanos, a prática foi rapidamente assimilada pelos colonos.

No segundo quadro Black está passando pelo cemitério que o barbeiro indicou. Parece que este lugar ainda hoje é um cemitério, o Mount Pleasant Cemetery.


No quarto painel a imagem evoca o início do conto-base: "Quando alguém que viaja pelo centro-norte de Massachusetts pega o caminho errado no cruzamento da rodovia de Aylesbury logo após passar por Dean’s Corners, depara-se com uma região isolada e curiosa."


Página 07

No primeiro quadro vemos um antigo arado à esquerda de Black.

No segundo quadro, ao lado do ombro esquerdo de Black, vemos uma antiga e deteriorada máquina de lavar roupas... sim, elas já foram assim.


Página 08

O forcado na mão de Garland Wheatley evoca a clássica pintura de Grant Wood, American Gothic, de 1930. Note que no ângulo em que a cena é retratada, o forcado "prende" Black.


Página 09

Wheatley está usando diversos amuletos e broches, representando várias organizações. A maioria deles parece ser benigna: o compasso da Maçonaria, os chifres para baixo da Shriners International, o broche da Ordem dos Alces (Elks Lodge, no original), os triângulos dos Cavaleiros de Pythias, o broche de águia de duas cabeças do maçon de 32º grau, etc.

Note que o forcado de Wheatley agora está sendo "detido" pela mão de Black.

Garland está de chinelos, o que sugere que ele estava em casa logo antes.

Mais detalhes sobre o livro de Hali, também chamado em outras versões de "Alfarrábio de Hali" e Kitab... podem ser encontrados nos extras das edições anteriores, em especial a 01 e a 02.

1912 é o ano em que Wilbur Whateley nasceu em "Horror de Dunwich", mais precisamente no início de Maio.

Página 10

Temos a primeira menção à Faculdade São Anselmo, que aparentemente equivale à Universidade Miskatonic da cidade de Arkham, usada em alguns dos mais marcantes contos de HPL. Manchester (não confundir com a cidade inglesa) é uma cidade real de New Hampshire. De fato, há mesmo uma Faculdade São Anselmo, mas ela fica logo depois de Manchester, já na cidade de Goffstown, no mesmo estado.

Originalmente Lovrecraft baseou Arkham em Salem - MA, mas em Neonomicon Moore erroneamente identificou Salem com Innsmouth e, assim, precisou encontrar uma cidade diferente para servir de base para Arkham dentro do contexto de Providence.

1890 é o ano de nascimento de Lovecraft.

No conto base os Whateley também tinham vacas, que eram usadas para alimentar o gêmeo monstruoso de Wilbur. Note que as vacas vistas no primeiro quadro aparentam estar doentes, com feridas, tal qual no conto base.

Uma olhada mais próxima em alguns dos distintivos de Wheatley revela que ele tem um pingente com a Cruz Potenteia. Entre os Antigos Persas era um símbolo usado para os magos.

Novamente a tal pedra em 82 se refere ao conto "A Cor que Veio do Espaço", de HPL. Em seguida Wheatley dá uma sucinta explicação dos fatos que lembra bastante os eventos desse conto.

Aqui há uma sugestão de que a sede da Stella Sapiente fica em Providence, Rhode Island.

Note também o contraste entre a área em que Wheatley age e a mata que o cerca: onde a família Wheatley tem sua casa e plantações tudo parece deteriorado, estragado, cheio de fungos e lesmas... mas a natureza permanece exuberante onde Wheatley não anda com frequência (como vocês verão na página seguinte), como se houvesse algo de doentio na própria essência dele que ataca a vida natural ao seu redor. Isso se encaixa bem com uma descrição que HPL fez da propriedade dos Whateley no conto base.

"(...) o velho Wade e o "sei lá o nome"  associado do General Pike (...)" — isso certamente se refere aos "Wades e Burens" citados por Boggs em Providence 03. Isso aponta para uma cisão dentro do conciliábulo, tendo de um lado a elite polida e educada dos Burens e Wades que olha de cima para baixo para o lado dos Wheatleys, mais "povão".

Não fica claro o suficiente para cravar se o General Pike mencionado aqui é o comandante da Guerra Revolucionária Zebulon Pike, ou o General Albert Pike do exército confederado da Guerra de Secessão... ou ainda outro Pike. Por hora vamos nos ater só às possibilidades.

Assim como alude Black, a "profecia do Redentor" está no Kitab (ver Providence 02, nos panfletos de Suydam). Isso possivelmente se refere aos eventos de Neonomicon e, se for isso mesmo, os Wheatley estão redondamente enganados.


Página 11

De fato, houve mesmo um incêndio que consumiu a Faculdade São Anselmo em 1892.

Se tem algo hermético e de interpretação complicada nesta edição é a passagem em que Wheatley diz "(...) Por vinte anos esperamos os experimentos deles darem certo." — aparentemente está se falando de Lovecraft aqui, que nasceu em 1890 e teria alcançado a maioridade em 1911. Isso corresponderia à época em que HPL teve um colapso nervoso que o impediu de se graduar no colegial (o que seria o nível médio aqui no Brasil).

Esse córrego provavelmente é o Córrego Tully, localizado a uns 15 Km de Athol.

"(...) Eles falam de estrelas distantes e dos abismos da eternidade e de como o homem não é nada (...)" — esta é uma descrição bem "pé no chão" de como HPL via o panorama cósmico, com foco em como o ser humano é insignificante e de pouca consequência no grande esquema do universo, uma mera aberração temporária a escala cósmica de tempo.

Página 12

Se a Sra. Wheatley morreu em 1890, Leticia nasceu antes disso, o que a faria ter em torno de 30 anos, mas provavelmente é um pouco mais velha.
A passagem em que Garland fala do estado em que sua esposa foi encontrada morta, com todos os ossos quebrados e tal, é uma reminiscência do romance "The Lurker at the Threshold", de August Derleth, que seria uma espécie de colaboração póstuma com HPL, já que Derleth declarou ter como ponto de partida alguns fragmentos de texto que HPL lhe deixara.

A maioria dos colonos da Nova Inglaterra era de Cristãos Protestantes. Um sentimento de anti-catolicismo vicejou por um longo tempo nos EUA.

Página 13

Leticia Wheatley seria a análoga de Lavinia Whateley do conto base, em que é descrita como uma mulher de certa maneira disforme, não atraente, e albina, por volta dos 35 anos.

Note que o Albinismo é uma anomalia genética recessiva que eventualmente é associada à endogamia.
Talvez seja uma "forçada de barra" da minha parte, mas quase sempre que Leticia aparece há algo como um halo ou moldura por trás de sua cabeça... dando-lhe uma "aura de santa" ou de "conceptora do redentor".


Página 14

No conto base, Wilbur Whateley, o análogo de nosso Willard Wheatley, também era dado a estudos nada ortodoxos, principalmente sobre magia e folclore... e também gostava de vagar pelas colinas da propriedade da família.

Outra similaridade com o conto base é a reforma da casa, feita para melhor acomodar o gêmeo de Wilbur que está "crescendo".

O quadro na sala tem halos, sugerindo uma cena religiosa como a Madona com o filho. Contudo, há duas crianças com halos em vez de uma, como se fosse uma indireta para os gêmeos de Leticia.

Assim como no conto base, em algum momento os Whateley também mudaram o gêmeo do depósito para o piso superior da casa.

"Jonh-Divine" — mantive o nome no original principalmente porque não costumo traduzir nomes próprios. Qual a referência aqui? John, the Divine, é o nome em inglês para o João das escrituras bíblicas, em especial o que acredita-se ter escrito o livro das Revelações (ou Apocalipse). Estudiosos apontam para a possibilidade de que esse João não é o mesmo do Evangelho de João, um dos apóstolos.
É interessante notar que o conto base (assim como seu predecessor, "O Grande Deus Pan", de Arthur Machen, mas isso não é assunto para debater aqui) ecoa deliberadamente a concepção sobrenatural bíblica, o nascimento e morte de Jesus Cristo, um tópico que foi muito abordado por estudiosos como Robert M. Price e que foi especialmente tratado por Donald Burleson em seu livro Perturbando o Universo.


Página 15

"(...) as pessoas gostam de gravuras [nos livros](...)" — talvez seja Moore dando uma "enchida de bola" nas HQ's como meio de comunicação de massa.

"(...) olmo sentinela da estrada da colina moore (...)" — isso é análogo à concepção que ocorre no conto base, que acontece no topo da Colina do Sentinela. Não há uma Colina do Sentinela em Athol, mas há de fato uma fazenda chamada Fazenda do Olmo Sentinela. A propósito, para quem não sabe, olmo é uma espécie de árvore nativa do hemisfério norte, em especial da Europa e América do Norte, bem grande e de folhagem densa que chega a atingir uns 30 metros de altura. Abaixo, um velho cartão postal com o dito olmo:



Página 16

Nesta página fica fortemente sugerido que Garland Wheatley inseminou a própria filha em 1912.

Embora ainda fosse uma novidade bem recente, já havia a técnica de inseminação artificial de gado por meio de dispositivos similares a êmbolos de seringas.

"(...) e os noitibós estavam cantando (...)" — Noitibós são aves noturnas conhecidas pelo seu canto, assim como o curiango, o assum preto (imortalizado na canção de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e o bacurau.

"(...) papai estava fazendo os ÂNGULOS." — provavelmente se refere à hipergeometria de O Sonho na Casa das Bruxas, de HPL.

"(...) ele era... como BOLAS grandes, sabe? penduradas ali..." — é uma referência de duplo sentido: pode se referir às bolas do pai e sua volúpia, tal qual um touro copulando, coisa que ela já conhecia por viver numa fazenda... e pode se referir à descrição lovecraftiana de Yog-Sothoth como uma aglomeração de grandes bolas iridiscentes.

Uma curiosidade: esse recurso gráfico de um close se aproximando de um olho da personagem para revelar uma coisa "barra-pesada" foi usado por Moore em Miracleman.


Página 17

Essa imagem descrreve o evento: Garland Wheatley aparentemente possuído por uma entidade (Yog Sothoth, talvez?) e copulando com sua filha. A saturação da cor pode ser causada pelo fato de estarmos vendo pelos olhos de Leticia.

As esferas sobre Garland tem a forma da Árvore da Vida da Cabala.


À esquerda vemos o já mencionado olmo sentinela.


Página 18

A associação entre magia e matemática é um tema abordado por HPL em alguns momentos, em especial em O Sonho na Casa das Bruxas. Isso coadunaria com o jovem Willard estudando magia/hipergeometria/matemática, assim como o fazia Wilbur Whateley no conto base.

Perceba que o forcado de Garland agora está posicionado como se capturando ou ameaçando Leticia.


Página 19

Vemos aqui Willard Wheatley em primeira mão. A visualização se encaixaria bem na descrição dada por HPL a Wilbur Whateley no conto-base. De fato, Wilbur reformou dois galpões da fazenda, mudou seus livros e material de estudos para um deles e passou a praticamente morar nele.

"(...) tu é o HOMI do HERALD." — No original, herald-man. É mais uma referência à Black ser uma espécie de arauto, como vimos em Providence 02... mas Black continua a interpretar essas menções apenas como referência a seu antigo emprego no jornal.

"(...) o qui o tô fazeno é uns TESSARATO (...) — na verdade Willard quis dizer tesserato.


Página 20

Por toda esta página Willard está manipulando os cubos de maneiras que parecem desafiar as leis normais da física. O leitor consegue perceber isso, mas Black aparentemente não. Uma representação bidimensional de um tesserato pode ser vista abaixo:


"ô tô perto de seis e meio." — se encaixa na linha do tempo do conto-base, bem como desta HQ: se Willard foi concebido em Maio de 1912 assim como Wilbur, e nasceu nove meses depois, então essa seria a idade aproximada dele em Julho de 1919. Logo, assim como Wilbur, Willard amadurece num ritmo acelerado.

A explicação de Willard para um tesserato é bem rude, mas essencialmente correta.

"(...) na stória do redentô (...)" — Quem diabos é esse redentor? Será o bebê que foi concebido em Neonomicon? Há quem pense que Moore esteja direcionando sua trama para que o tal redentor se mostre o próprio HPL, sendo ele o próprio experimento da Stella Sapiente.

"(...) é pra tê o vovô maluco, a tal da muié de cara branca e o minino de má aparência.(...)" — Essa parte da profecia ecoa claramente tanto o conto-base quanto a própria vida de HPL: depois que seu pai morreu, HPL viveu com seu avô e sua mãe (cuja aparência nas palavras do próprio HPL era "devastadora", mas no mau sentido). Diversos críticos mostram pontos em comum  entre "Horror de Dunwich" e a estrutura familiar de HPL.

Observe que o tesserato inclui uma estrela de seis pontas, como a judaica. Isso pode ser coincidência... mas como vimos anteriormente, parece que em algum momento veremos a trama se direcionar para o Holocausto da Segunda Guerra Mundial.


Página 21

"(...) com nossos cumpetidô é quiocê tá." — novamente, uma sugestão de que há uma divisão entre os vários cultos.

"(...) os lugá interrado ficá pur cima dinovo (...)" — soa como uma referência à ilha submersa de R'lyeh, onde Cthulhu dorme.

"(...) o livro com as letra Aklo." — Como vimos antes, as letras Aklo são um idioma/código do Necronomicon, e isso pode ser conferido no conto-base. Lembrar que Lovecraft "tomou emprestado" as letras Aklo de "The White People", de Arthur Machen.

"(...) ô sei quem tu é mió do qui TU (...)" — Parece mais uma vez que a reputação de Black o precede.


Página 22

Uma fotografia de Willard Wheatley e seu irmão que é naturalmente invisível (assim como o de Wilbur), embora dê para ter uma noção de seu tamanho pela depressão no assento do sofá.

Ronald Underwood Pitman aparenta ser o análogo de Richard Upton Pickman, do conto O Modelo de Pickman, de HPL. Assim como Pickman, Pitman também vive em North End - Boston.


Página 23

A menção de que Willard precisa tirar uma soneca por um período todo mês não é bem clara. Ciclos mensais sugerem menstruação, mas a menos que Willard seja um hermafrodita, é mais provável que isso seja alguma outra característica peculiar de sua fisiologia híbrida, possivelmente por conta de seu crescimento acelerado.

A "Toca do Urso" é uma pequena caverna perto de Athol. É mencionada no conto-base.


Página 24

Esta é a mesma cena que vimos na primeira página, só que lá vimos pelos olhos do gêmeo de Willard, John-Divine, e agora a vemos como um observador neutro, dentro do contexto da trama.

Embora não possamos ver ou ouvir o invisível John-Divine, ao que parece os Wheatley conseguem.


Página 25

Stell Saps, é uma abreviação informal usada para falar tanto da própria Stella Sapiente quanto de seus integrantes.

Quando Garland fala que Black vai para Manchester, ele está insinuando que sabe que Black está rastreando o Kitab, e é lá onde ele pode ser encontrado, mas até onde vimos Black não mencionou isso diretamente.


Página 26

A placa na encruzilhada foi vista antes.

A seguir temos nos recordatórios trechos do poema "The Ancient Track", o que se estende até a página seguinte.


Página 27

Moore escreveu uma história curta chamada Zaman's Hill, mas foi baseada em outro poema de Lovecraft.

A título de curiosidade, como não encontrei uma tradução "oficial" para este poema, resolvi adaptar o poema para português na íntegra:

A Trilha Antiga

Não houve mão para me segurar
Na noite em que a trilha antiga fui encontrar
Sobre a colina, e custoso de enxergar
Os campos que vinham minha memória provocar.
Esta árvore, aquele muro — eu conheci bem,
E todos os tetos e pomares caem
Familiarmente sobre minha mente
Como se vindos de um passado recente.
Eu sabia que sombras seriam lançadas
Quando a atrasada lua chegasse enfim
Voltando da Colina de Zaman, e assim
O vale brilharia por três horas de agora contadas.
E quando o caminho ficou íngreme em aclive,
E parecia que acabaria no céu estrelado,
Além do seu cume delineado,
Do que poderia lá jazer, medo, eu não tive.
Direto eu caminhei, enquanto os breus da noite sumiam
E empalideciam com uma luz fosforescente,
E paredes e casario de fazenda tremeluziam
Celestiais pela estrada ascendente.
Lá estava a pedra de marcação que eu conhecia —
"Duas milhas para Dunwich" — agora a visão
De telhados e um pináculo distante amanheceria
Com mais dez passos para cima que se vão...

Não houve mão que me tivesse contido
Na noite em que a trilha antiga fui encontrar,
E alcancei o ápice para ver se espalhar
Um vale dos perdidos e falecidos:
E sobre a Colina de Zaman o corno
De uma lua maligna nasceu,
Para iluminar ervas e vinhas que servem de adorno
A paredes uma ruína que ninguém conheceu.
No campo e no charco, os fogos-fátuos fulguravam,
E líquidos desconhecidos um miasma vomitavam
Cujas garras enroladas zombavam do pensamento
De que este lugar era de meu conhecimento.
Muito bem eu vi aquela louca imagem
De que meu amado passado nunca havia sido —
Nem eu estava agora sobre a passagem
Descendo para aquele vale há muito falecido.
Ao redor havia neblina — adiante o esparramar,
Na Via Láctea, de um conjunto de arroios estelar...
Não houve mão que me pudesse segurar
Na noite em que a trilha antiga fui encontrar.


Página 28

30 de Julho

No original o novo título do livro de Black se chama Marblehead: an American Undertow. Undertow é uma palavra com um significado amplo mas, trocando em miúdos, seria a palavra que descreve a corrente marítima reversa que observa-se no recuar de uma onda ou nas ressacas.
Esse título lembra o romance Marblehead, de Richard Lupoff, que foi originalmente publicado como sendo de autoria de HPL. Em sua trama, fictícia, Lovecraft estaria envolvido com o Movimento Nacional Socialista Americano, que era ligado ao Nazismo alemão.

"Wilde" se refere a Oscar Wilde.

A Tartaruga do Mundo é um mitema bastante difundido entre os povos nativos da América do Norte.


02 de Agosto

"Poe" se refere a Edgar Allan Poe.


Página 29

02 de Agosto (continuação)

Uma forma epistolar para um romance é contar a trama através de uma narrativa indireta, por meio de "documentos", em geral cartas (epístolas) como no caso do próprio Drácula, mas podendo ser utilizados recortes de jornal ou entradas de diário. HPL mesmo usou esse recurso em alguns de seus contos como "O Templo" e "O Diário de Alonzo Typer".


Página 30

03 de Agosto

O interesse de Black no moreno da recepção explica o porquê de ele estar em uma barbearia dando um "tapa no visual" na segunda de manhã — ele teria um "encontro" com o rapaz na noite seguinte.

04 de Agosto

A Estrada Orange existe mesmo ao norte de Athol. Contudo, o "Velho Pedágio" não existe ou, se existe, foi renomeado desde então.


Página 31

04 de Agosto (continuação)

Garland Wheatley parecer um bode encontra eco nas descrições de Wilbur Whateley no conto-base.

Os Cavaleiros de Pythias é uma sociedade secreta e fraternal.


Página 32

Primeiro desenho de Leticia Wheatley. Mostra uma renderização infantil da imagem da página 17, com Leticia, Garland, o Olmo Sentinela e as esferas conectadas de Yog-Sothoth (ou da Árvore da Vida).


Página 33

Vemos aqui a descrição de "John Devine", que seria um erro de grafia da não muito letrada Leticia Wheatley. John-Divine é representado como uma sobreposição de partes, o que corresponde à descrição dada no conto-base.
Esse aspecto de sobreposição no desenho pode representar a natureza multidimensional da criatura, na qual só algumas partes dela são visíveis de cada vez.


Página 34


04 de Agosto (continuação)

"(...) um monte daqueles pobres coitados que voltaram da Europa no fim do ano passado." — refere-se aos soldados que voltaram da Primeira Guerra Mundial. Moore então estaria sugerindo que a lentidão de raciocínio de Leticia é Estresse Pós-traumático.

"(...) esse tipo de coisa acontece o tempo todo entre os pobres do campo (...)" — Black está falando de incesto e endogamia.

"(...) a monstruosidade absoluta (...)" — um duplo significado aqui: o incesto e o próprio Yog-Sothoth.

"Acho que ele disse que tinha por volta de dezesseis e meio (...)" — Black ouviu mal. Willard disse ter quase seis anos e meio.

"(...) tenho certeza de ter visto um grande pode de cola lá na mesa onde ele estava (...)" — Mais uma vez Black se equivoca, pois não havia nada lá. Talvez seja sua mente tentando acomodar e justificar as formas impossíveis que Willard fazia com os cubos.


Página 35

04 de Agosto (continuação)

"(...) olhar para aquilo me deu uma suave dor de cabeça (...)" — isso se refere a Black não ser capaz, assim como a maioria de nós, de perceber um objeto quadridimensional. Uma vez eu tentei visualizar mentalmente uma porra de um hipercubo e deu um tilt na minha cabeça que eu pensei que nunca mais ia ficar bem.

"Uma legenda abaixo tinha um erro de impressão e dizia "os garotos" em vez de "o garoto" (...)" — Black interpretou mal a imagem que viu (ou que não viu!), de Willard e seu irmão invisível, John-Divine.


Página 36

13 de Agosto

O Chatterton mencionado trata-se de Thomas Chatterton, famoso poeta inglês. Suicidou-se ingerindo arsênico.


Página 37

13 de Agosto (continuação)

Refrescando a memória, Milwaukee, no Winsconsin é a cidade natal de Black, conforme vimos em Providence 01.

Essa narrativa tem um subtexto bem óbvio que fala da dificuldade de Black em ser homossexual.

Eugene O'Neill foi um dramaturgo anarquista e socialista estadunidense.


Página 38

13 de Agosto (continuação)

"(...) eu estava começando a ficar bem animado sobre todo o material de bordo do convés." — Aqui se perdeu na tradução um trocadilho que indicaria que essa animação de Black com a história de marinheiros se deveria à presumida existência de um homossexualismo velado a bordo de embarcações, considerando que as tripulações à época eram constituídas quase que exclusivamente de homens confinados em alto mar por longos períodos.

"(...) uma nódoa de vergonha (...)" — uma referência ao livro A Letra Escarlate, sobre o qual falamos na edição 03.


Página 39

14 de Agosto (continuação)

Gustav Moreau foi um pintor simbolista francês.

Hieronymus Bosch foi um pintor medieval holandês.

Uma quimera seria uma criatura feita de partes díspares e tem seu nome recebido do mito grego.

"(...) os ocasionais vampiros e lobisomens." — A ficção de horror de Lovecraft é excepcional, entre outros motivos, justamente por ter rompido com os "mesmos monstros de sempre" e ter partido em busca de desbravar novos horrores.

Jules Verne e H.G. Wells foram escritores de ficção científica. Recomendadíssimos!

"(...) o caráter grotesco dos Marcianos de Wells (...)" — referência a Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, livro em que os marcianos invadem a Terra.

O "Bierce" mencionado aqui é Ambrose Bierce, mencionado diversas vezes em Providence 01.


Página 40

14 de Agosto (continuação)

O livro "O Besouro", de Richard Marsh (pseudônimo de Richard Bernard Heldmann), é um romance de horror sobrenatural que saiu à mesma época de Drácula, de Bram Stoker, mas que foi eclipsado por este, embora a crítica especializada declare que se trate de um romance bem melhor e mais bem escrito.

17 de Agosto

Sobre Prissy Turner e o Sous le Monde, leia nossa seção em Providence 01.


Página 41

14 de Agosto (continuação)

"(...) me livrar da Srta. Cabeça-Oca (...)" — no original, Black chama o moreno da recepção de "Miss Dingbat", o que seria, em inglês, uma expressão para indicar uma mocinha com vento na cabeça em vez de miolos.

19 de Agosto

"Dr. North" talvez seja um possível análogo do Dr. Herbert West, do conto "Herbert West — Reanimator". Note que North e West querem dizer em português, respectivamente, Norte e Oeste.


Contracapa

Essa carta é citada do livro "Lord of a Visible World", que é meio que uma autobiografia que HPL fez reunindo diversas de suas correspondências.

H. Warner Munn foi um amigo e correspondente de HPL. Também escreveu para pulps.

W. Paul Cook foi um jornalista e editor amador, também amigo de HPL.

A Toca do Urso já foi mencionada, lembra?

Lillian D. Clark foi uma das tias de Lovecraft.


QUAISQUER INFORMAÇÕES AQUI CONTIDAS ESTÃO SUJEITAS A REVISÃO E ALTERAÇÃO.

8 comentários:

Anônimo disse...

Excelente trabalho!

Uma pesquisa MUITO bem feita!

Qualidade, clareza e conteúdos muito bons MESMO!

Estou aguardando ansioso as próximas edições.

PARABÉNS!

Leandro 2112 disse...

Meus parabéns.

Trabalho surreal.

Marcio Roberto disse...

"Uma vez eu tentei visualizar mentalmente uma porra de um hipercubo e deu um tilt na minha cabeça que eu pensei que nunca mais ia ficar bem" KKKKKKKKKK nossa cara, você é demais! Mais uma vez muito obrigado pelo trabalho incrível! E de quebra, já tô com vontade de ler mais um monte de livros, só por causa destas referências e indicações.

Unknown disse...

Será que as esferas vistas na cena do incesto não se referem ás Qliphots (versão sombria da Árvore da Vida)? Isso se encaixaria no conceito de que os mundos dos sonhos (antigos) se tornarem reais por meio desse escolhido, alguns seres passarão a existir. Seres que já existiram (na mente das pessoas ou no mundo material) e virão a existir (foi, são e serão). Sem contar uqe faz sentido na cronologia de histórias de Alan Moore, ele já estudou a Kabbalah e para retornar ao universo de Lovecraft deve ter estudado as Qliphots, seguindo instruções de Kenneth Grant que também via um uso magístico para o universo de HPL.

Skætos disse...

Pois é, Marcio Roberto... Deu tela azul geral aqui no meu juízo quando eu tentei mentalizar um sólido tetradimensional! hahahahaha

Skætos disse...

Sim, Pablo, são precisamente as Qliphots. Sua observação é acurada. Note que em Promethea (série que eu nunca consegui gostar...) Moore também faz uso dessa mesma temática.

Unknown disse...

Camarada, isso que vc faz é espetacular. Já li e ouvi vários contos do HPL mas ter esse guia de extras pra relembrar as coisas é espetacular. Considero agora 3 mestres na minha passagem por essa leitura espetacular de Providence, Moore, Burrows e Skaetos!! Quais os outros trabalhos que vc fez desse tipo? Abraço

Skætos disse...

Desconhecido do dia 27 de janeiro de 2020:

Obrigado pelos elogios. Fico feliz que tenha gostado.

Sempre pesquiso sobre o que estou traduzindo, então, em uma escala ampla, pode-se dizer que tudo que eu traduzo tem um trabalho de pesquisa envolvido.

Por outro lado, a pesquisa que fiz pra Providence foi de longe a mais exaustiva que fiz na vida. Nem pra defesa de tese eu pesquisei tanto.

Abraço