domingo, 29 de janeiro de 2017

Providence 11 de 12 - Extras

Aqui estamos de volta com mais uma seção de anotações e extras. Reiterando: só continue a ler esta postagem se você já tiver lido (e relido) a edição 11. Posto isso, vamos ao que interessa:



CAPAS
Desta vez temos um montão de capas variantes. Sim, a Avatar está apelando, eu sei. Diria que é praticamente impossível para um colecionador comum ter todas as edições com capas diferentes... mas aqui é o Gibiscuits! Aqui você vê todas elas com os devidos comentários.

Capa Regular

A capa que está na edição que preparamos mostra algo do qual falamos bastante principalmente na primeira edição, um "Jardim de Saída", que nada mais é do que uma das câmaras de suicídio assistido imaginadas por Robert W. Chambers em O Rei de Amarelo, mais precisamente em seu conto "O Reparador de Reputações". Reparem que está coberto de neve obviamente porque nessa época do ano Nova Iorque geralmente está coberta de neve... inclusive o Parque Bryant, onde essa edificação está localizada.

Capa Pantheon

Essa, ao contrário do que pode parecer a priori, não é uma representação do Rei de Amarelo. Trata-se do "Sumo-Sacerdote que não pode ser descrito", de A Busca Onírica Pela Desconhecida Kadath.

Capa Portrait
Pela primeira vez temos o próprio Black na capa portrait... e aparentemente mostra um flashback de seus dias mais felizes, pois deduz-se que as mãos segurando o fictício Sous le Monde sejam de Jonathan "Lily" Russell. Essa cena obviamente se passa ainda antes dos eventos de Providence 01. Ah, pra quem esqueceu, o Sous Le Monde seria o equivalente de Providence para O Rei de Amarelo.

Capa Women

O próprio Jacen Burrows em entrevista destacou que esta senhora é ninguém menos que Sonia Haft Greene, a esposa de HPL. Fiz questão de encabeçar esta postagem com uma das poucas fotos conhecidas que se tem dela, e que obviamente foi a "inspiração" do bravo artista.

Capa Dreamscape
  
Uma representação da penúltima cena de A Busca Onírica Pela Desconhecida Kadath, quando Randolph Carter vê pela primeira vez a cidade que tanto procurou.

Capa Weird Pulp
Com os devidos agradecimentos ao comentarista que me enviou o link! Sobre a capa, aparentemente este é Nyarlathotep.


Capas Century (calma que eu vou explicar...)
 
 
Ceeeeerto... Dessa vez a Avatar passou do limite. Além das capas variantes tradicionais que a gente já vem trazendo, agora eles aparecem com uma série de 10 capas chamadas "Century" (não me pergunte o porquê desse nome). Todas elas são desenhadas por Raulo Caceres, outra figurinha carimbada da editora, e pelo que se sabe somente 100 cópias de cada serão produzidas e comercializadas exclusivamente através do site pelo qual a Avatar faz suas vendas, o Comic Cavalcade. Cada uma delas trata de um conto específico de HPL que influenciou esta série até aqui. A seguir vou detalhar cada uma delas.
  • Capa Mi-Go: Os Mi-Go, ou Fungos de Yuggoth, e seus cilindros de cérebro apresentados em O Sussurro nas Trevas. A tecnologia bio-mecânica lembra o estilo de H.R. Giger, que ficou amplamente conhecido devido às suas coleções Necronomicon 1 & 2, e pelos filmes Alien e A Experiência. Vale destacar que Giger deu uma cópia de Necronomicon para Ridley Scott e este decidiu fazer sua obra máxima, Alien, o 8º Passageiro... uma influência indireta de HPL!
  • Capa Final Words: Uma representação da morte de Abdul Al-Hazred tal qual como foi descrita em A História do Necronomicon.
  • Capa Red Hook: Uma cena do fim de O Horror em Red Hook. O cilindro está inscrito com palavras do encantamento que Lovecraft copiou para a história. Já o símbolo no topo como uma combinação de Vênus (♀) com a Lua (☽), provavelmente se refere a Hecate, a deusa das bruxas e associada com a Lua.
  • Capa Great Race: A Grande Raça dos Yith — e Nathaniel Wingate Peaslee — foram apresentados em A Sombra Fora do Tempo.
  • Capa Dunwich: Essa é Lavinia Whateley segurando seus gêmeos, Wilbur (à esquerda) e o inominado (à direita). A capa do Necronomicon à esquerda tem o símbolo do Simonomicon (do qual falaremos mais adiante nesta seção...). e o tomo amarelo na prateleira acima tem o Símbolo Amarelo na lombada, tal e qual ficou popularizado pelo RPG O Chamado de Cthulhu. Obviamente estamos falando do conto O Horror de Dunwich!
  • Capa Witch House: Uma cena de Os Sonhos na Casa das Bruxas. Ironicamente o Homem Negro, Nyarlathotep, parece ser baseado no próprio HPL.
  • Capa Mountains of Madness: Uma cena do conflito ancestral em Nas Montanhas da Loucura, onde os Antigos guerrearam contra os rebeldes, os mutáveis Shoggoths.
  • Capa Unnameable: Como resta óbvio, trata-se de uma cena de O Inominável.
  • Capa HPL: Uma interpretação artística de Caceres sobre um retrato tirado por Lucius B. Truesdell em Junho de 1934. 
  • Capa Moon Bog: O tema aqui é o conto O Pântano Lunar.

Página 03

  • A data provável aqui é 28 de Dezembro de 1919, teoricamente num trem de Providence para Nova Iorque. O diálogo abaixo tem lugar entre os eventos entre a edição anterior e esta.
  • "(...)" algo... veio até mim." — Isso se refere a Johnny Carcosa.
  • Observem que no primeiro quadro, por este ângulo, todos os ocupantes do vagão parecem ser "normais"... o que não ocorre na página seguinte.
  • "Ora, meu caro Robertus (...)" — HPL tinha mesmo essa mania de chamar os seus amigos por apelidos. Consta que Robert Bloch era chamado assim mesmo por ele. Como vimos nas edições anteriores, HPL também usava um pseudônimo nessa mesma linha, Titio Teobaldo, ou melhor dizendo, Lewis Theobald Jr.


Página 04

  • "O Inominável" é um dos mais famosos contos de HPL. Leiam. Vale muito à pena.
  • Agora a seção "quem é quem". Do ponto de vista de Black os passageiros são diversas "pessoas" com quem ele encontrou (ou não) em suas andanças até aqui. Vou elencar aqui as celebridades em sentido horário a partir do banco da frente à esquerda:
    - Elspeth Wade (Prov 05 e 06). Ela é a única que parece olhar diretamente para Black.
    - Hekeziah Massey (Prov 05)
    - Robert Suydam (corredor) e Cornelia Gerritsen (janela) (Prov 02)
    - Zeke Hillman (corredor, Prov 03) e o ressuscitado Japheth Colwen/Charles Howard (janela, Prov 10)
    - Tobit Boggs (corredor) e sua esposa Negathlia-Lou Boggs (janela) (Prov 03)
    - Dois dos passageiros com o "semblante de Innsmouth" do final de Providence 03
    - O agente federal Frank Stubbs de Providence 05
    - Um dos cobradores com rosto tentacular visto no mundo onírico de Providence 08
    - Um sujeito aparentemente desconhecido, de sobretudo e chapéu fedora, talvez um agente governamental (corredor, Prov 03 ou 05), e Henry Annesley (janela, Prov 08 e 09)
    - Shadrach Annesley (corredor) e Increase Orne (janela) (Prov 03)
    - O demônio Lilith (corredor, Prov 02) e Garland Wheatley (janela, Prov 04)
    -  Um assento "vazio" no corredor, provavelmente ocupado por John Divine Wheatley, e seu irmão Willard (janela, Prov 04)
    - O famigerado Sr. Jenkins (corredor, Prov 05) e um sujeito com brânquias não identificável (janela). Notem que a cauda do Sr. Jenkins está visível ao seu lado no assento.
    - Dr. Hector North (corredor) e seu parceiro James Montague (janela), ambos de Providence 05 a 07
    - Um carniçal de Providence 07


Página 05

  • Notem a mudança de enquadramento da roda do trem para o disco do segundo para o terceiro painel. Essa técnica é muito empregada em filmes antigos e a mudança de um objeto redondo para o disco se repete várias vezes nesta edição.
  • You Made Me Love You” (1913) de Al Jolson  é uma gravação em 78 rotações da Columbia. O verso chave aqui é “You made me love you/I didn’t want to do it” (Você me fez te amar / Eu não queria fazer isto), sugerindo uma relação de amor/repulsa, ou mesmo uma inesperada atração.
  • Esse disco dá o tom desta edição e também pode ser visto como uma metáfora para um olhar "de fora do tempo". Vamos ver se eu consigo explicar... Nós percebemos uma música como algo linear, uma sequência ordenada de acordes e notas, mas quando impressa num disco é na verdade possível de ser percebida em múltiplos momentos de uma só vez, embora não mais como uma música. O disco é um objeto tridimensional que contém uma espiral (quase) bidimensional de tempo que conduz a uma inevitável conclusão. A trilha em espiral só é visível de cima, na terceira dimensão. Essa percepção temporal permeia quase tudo que Moore já escreveu e foi aludida brevemente num panfleto de Suydam em Providence 02. Grant Morrison também toca neste tema insistentemente em sua obra Os Invisíveis.
  • Notem que o disco vai girando inexoravelmente no decorrer da edição. Um detalhe minúsculo porém intrigante é uma pequena marca em forma de "T" no selo do disco, que está sempre na posição aproximada de 1 hora, não importa o quanto o disco gire. Há uma única exceção, que é quando o funcionário do Jardim de Saída está segurando o disco e essa marca não aparece. Não faço a menor ideia do que isso poderia significar. Marquei em vermelho para vocês verem...
  •  Um comentarista de um site de discussões sobre a obra diz que toda esta edição se centra nos momentos "Escada de Jacob" de Black enquanto ele está morrendo no Jardim de Saída. Quando vemos o disco pela primeira vez nesta página ele já está tocando, o que sugere que a sequência nas páginas anteriores, da viagem no trem, são alucinações de Black enquanto ele está inalando o gás letal da câmara... procedimento esse que começou antes de termos lido a primeira página. Observem que não há vista de paisagem pelas janelas do vagão e a roda do trem "se transforma" no disco. Isso seria Black rememorando cada passo que o levou até o Jardim de Saída à medida que morre. As 14 imagens em que o disco aparece estão mostrando o último giro do disco enquanto Black chega à sua inevitável conclusão.
  • O funcionário da estação de trem que vimos de relance num "sonho" de Black em Providence 03 aparece de novo... também não entendi ainda qual é a desse sujeito.


Página 06
  • O enquadramento do primeiro painel, de baixo pra cima, faz parecer que os edifícios estão se avolumando sobre Black. Essa técnica é bem conhecida no cinema por "Ângulo Holandês", usada com frequência para indicar tensão ou perturbação psicológica.
  • A galera sendo colocada na viatura é presumivelmente fruto de uma blitz da lei seca que estava vigorando nessa época nos EUA. Falamos disso em outras ocasiões.
  • O Horn & Hardart é o mesmo restaurante que Black visitou na primeira edição. O mendigo sem um braço também parece ser o mesmo que vimos fora do restaurante na primeira edição.
  • Assim como em Providence 01, Charles está nesse restaurante. Ele usa uma aliança no dedo médio da mão esquerda, um outro sinal velado de homossexualidade.

Página 07

  • O retrato à direita, no primeiro painel, é da Ponte do Brooklyn.
  • Vera é a (o) amante de Charles. Também foi mencionada em Providence 01
  • "Digo, as greves foram dissolvidas, não é?" — Isso se refere ao evento que mencionamos em Providence 03, a última vez que vimos Charles.
  • O Decreto Volstead foi o nome formal para a Lei Seca dos EUA. Mais detalhes AQUI.
  • "(...) os Arnolds Rothsteins do mundo (...)" — Uma referência a Arnold "O Cérebro" Rothstein, o líder do crime organizado judeu em Nova Iorque naquela época.
  • "(...) Digo, você sabe o que fazem. você sabe o que acontece com..." — Uma alusão à violência, inclusive sexual, dirigida a homossexuais na prisão. Achou que era só no Brasil? Tem desgraça no mundo todo...

Página 08

  • Observem a transição do pudim para o disco.
  • Na carroça (sim, ainda haviam carroças na Nova Iorque de 1919) vê-se "Sullivan Coal" O Condado de Sullivan era uma fonte de carvão para uso doméstico desde a década de 1860. Alguns leitores apontaram que essa cena é uma alusão ao episódio que desencadeou a loucura de Nietzsche. Um outro sugeriu que isso poderia remeter à obra Os Quatro Estágios da Crueldade, de William Hogarth (que mencionei em uma edição anterior, mas não lembro qual...), em especial à segunda ilustração. A quarta e última aparece em Do Inferno, de Moore. Confiram a seguir:
  •  Essa cena mostra o que chamamos de "Efeito Leng", uma espécie de efeito temporal em duas dimensões. O mesmo que Johnny Carcosa exibiu em Providence 10 e que aparece em Neonomicon 04. Isso implica que Black está percebendo o tempo fora de seu fluxo normal.

Página 09

  • Vemos aqui Black enviando seu diário (Livro de Banalidades) em um envelope para Tom Malone, a última pessoa em que Black deposita alguma confiança. Ora, a semelhança com o final de Watchmen aqui é patente; Rorschach também enviou seu diário para alguém que ele julgava de confiança antes de partir numa missão suicida. Isso se coaduna com o que Moore disse certa vez sobre Providence ser a sua tentativa de fazer algo como o "Watchmen da mitologia Lovecraftiana".
  • Como mencionamos ainda em Providence 02, Thomas Malone é um personagem de O Horror em Red Hook, de HPL.
  • O carro vermelho do quarto painel lembra bem o do Sr. Jenkins, e...

Página 10 

  •  ... isso parece afetar Black mais uma vez.

Página 11

  • Os óculos de Black no segundo painel, e apenas nesse painel, estão visivelmente intactos. Um erro do artista ou algum tipo de simbolismo? Talvez um momento final de clareza? Especulações...
  • Olha aí o babaca do Freddy Dix, de Providence 01. Em meio à sua babaquice ele ainda tenta ser legal. Ele foi visto ainda em uma sequência onírica na edição 03 e mencionado na 08.

Página 12

  • Algo que se perdeu na tradução foi que pelo linguajar de Dix, fica implícito que ele é um Nova-iorquino nativo.
  • O fato de Black admitir de forma tão direta sua homossexualidade para alguém de fora revela o quanto ele já está fora de si, pouco se importando para o que vão pensar dele... afinal de contas ele estará morto em breve.
  • "(...) quando a gente não arranja uma garota na sexta à noite, nos arranjamos com um veadinho." — apesar do linguajar claramente ofensivo, Dix está assumindo uma espécie de bissexualidade ocasional, o que na verdade mostra que a ofensividade de suas palavras na verdade é uma forma de se manter na defensiva.
  • Quando Dix oferece a garrafa envolta em um saco de papel, com bebida ilegal, para Black, a referência é a sequência onírica que Black relatou em Providence 08. Nela Dix aparecia na janela do escritório olhando para baixo com uma expressão triste, em sua direção, tirava uma garrafa do bolso e a ergueu em sua direção como se estivesse brindando.
  • Os mencionados Prissy Turner e Ephraim Posey apareceram em Providence 01 e 03.

Página 13

  • A fala "quebrada" de Black lembra um pouco o que Dave Sim faz em Cerebus e aponta a inabilidade de Black em se expressar. Sendo ele um sujeito articulado, essa falta de palavras é um horror avassalador à parte para ele. Se Black, um pretenso escritor, não consegue mais usar as palavras apropriadamente, ainda restaria algum propósito em sua existência?
  • No fim Black esquece (ou deixa para trás) sua mala, ainda com um pedaço de roupa pra fora, mostrando o total estado de desnorteamento em que se encontra.

Página 14

  • Essa ponte em arco em frente ao Bryant Park é a mesma que Jonathan Russell (Lily) visitou na primeira edição.
  • Black vai ao mesmo Jardim de Saída que seu (sua) antigo(a) amante foi em Providence 01. Será que Black está ciente dessa simetria?
  • A imagem emoldurada no terceiro painel, à esquerda, é uma cópia de A Ilha dos Mortos, pintada por Arnold Böcklin. Essa pintura existe em algumas versões. A que mostro abaixo parece ser a versão de 1883. O simbolismo aqui pode ser uma alusão velada a R'Lyeh, que em certo sentido também é uma ilha dos mortos.

  • Black escolhe justamente o disco que é a constante desta edição. Lembrem que Jonathan Russell disse para Black, na sequência onírica de Providence 03, algo como "Você me fez te amar, Robert, e eu não queria fazer isso", que é o verso chave da canção.


Página 16

  • "(...) receio que tenho notícias de Susie..." — A mãe de HPL, Sarah Susan Phillips Lovecraft faleceu em 24 de Maio de 1921. A senhora por trás dele é presumivelmente uma de suas tias. Isso é parte da indicação de que o tempo está avançando rápido a partir destes painéis.
  • "James, eu ainda... estou vivo. não os deixe..." — A cabeça sem corpo é do Dr. Hector North e o homem assustado é seu companheiro, James Montague. Esta cena é uma variação do que acontece no fim de Herbert West — Reanimator. HPL ambientou os eventos desta noveleta em seis anos após Flandres, o que deixaria estes eventos em 1921 ou 1922.
  • Tom Malone segue de forma sub-reptícia Robert Suydam e Cornelia Gerritsen. Todos eles apareceram em Providence 02 e O Horror em Red Hook.

Página 17

  • No primeiro painel, à esquerda, temos a primeira aparição de Clark Ashton Smith. Sua representação lembra um pouco a ilustração abaixo (sim, ele era mesmo feio pra cacete):

  • O início da carta é de fato igual ao início da primeira carta de HPL para ele, datada de 12 de agosto de 1922. Smith tornou-se colaborador dos Mitos de Cthulhu. Além da ficção, Smith se tornaria conhecido por suas pequenas esculturas anos depois. As que aparecem aqui parecem ser realmente baseadas nas dele, como vocês podem atestar pelas amostras a seguir:
  • De Samuel Loveman já falamos à exaustão. Adiante.
  • No terceiro painel, à esquerda, temos Farnsworth Wright, "leitor cobaia" da Weird Tales em 1923; à direita, Edwin Baird, primeiro editor da mencionada publicação. Eles aparentemente estão no escritório da Weird Tales no Ed. Baldwin, Monument Circle, em Indianápolis, Estado de Indiana.
  • Dagon, como todos vocês já deveriam saber é um conto duca do mestre HPL. Foi publicado em 1919 pela primeira vez na Vagrant, quando foi lido pela primeira vez por Black (Providence 10). Baird enfim aceitou publicar Dagon anos depois.
  • "(...) se ele datilografasse isso apropriadamente." — refere-se a como as primeiras histórias de HPL foram enviadas escritas de próprio punho, "à mão", e foram devolvidas para que fossem datilografadas e reenviadas.
  • "Eu não faço ideia se estas coisas são adequadas (...)" — esse pedaço é mesmo de uma carta de HPL submetendo suas primeiras histórias para a Weird Tales. Trechos dessa carta foram publicados na edição de setembro de 1923 e foram reproduzidas em diversas de suas biografias e coletâneas de contos.
  • "(...) gostaria de investigar mais a fundo..." — Isso é Tom Malone desencadeando os eventos de O Horror em Red Hook.

Página 18

  • Primeira aparição de Sonia Haft Greene, que casou com HPL na capela de Saint Paul, Nova Iorque, em 03 de Maio de 1924. Eles estão na frente da capela.
  • Esse endereço aí é mesmo o que abrigou o casal Lovecraft no Brooklyn.
  • A "cara tia Lillian" é Lillian Delora Phillips Clark, a mais velha das tias de HPL.
  • O texto da carta é autêntico.
  • Essa é a morte de Suydam e Gerritsen. Isso ecoa a morte de suas contrapartes em O Horror em Red Hook.
    O médico do barco que entrou no camarote e ligou as luzes em seguida não enlouqueceu, mas também não falou nada do que viu até mais tarde, quando se correspondeu com Malone em Chepachet. Foi um assassinato – estrangulamento –, mas não é preciso dizer que a marca de garras na garganta da sra. Suydam não poderia ter sido feita pelo marido ou qualquer outra mão humana, ou que sobre a parede branca bruxuleou por um instante num vermelho odioso uma inscrição que mais tarde, copiada de memória, parece ter sido nada menos que as letras caldeias temíveis da palavra “Lilith”. (Tradução retirada da edição da L&PM Pocket)
  • HPL escreveu O Horror em Red Hook em 1925 e, embora o autor não tenha explicitado datas na trama, várias passagens fazem deduzir que ele se passaria mesmo na época em que foi escrito.
  • HPL se separou de sua esposa em 1925 quando ela se mudou para Cleveland por conta de uma oferta de emprego. Aos apressados em julgar a moral da Sra. Sonia Greene, lembrem que o casal vivia em dificuldades financeiras e que HPL morreu sem ver os frutos ($$$$) de seu trabalho, exceto por pequenos pagamentos vindo de revistas então quase amadoras como a própria Weird Tales. Na prática, Sonia era quem bancava as despesas do lar. Assim, ele foi deixado por Sonia em uma quitinete na Rua Clinton, nº 169, em Flatbush, que fica bem perto de Red Hook (como vimos na #02). Esse endereço viria a ser o local onde muitos dos eventos narrados em O Pátio e Neonomicon aconteceram.
  • Thomas Malone abaixo da igreja em Red Hook, vendo Lilith levar o corpo de Robert Suydam. A cena é reminiscente de uma quase no fim de O Horror em Red Hook:
 "O Satã mantinha a sua corte babilônica nesse lugar, e no sangue da infância imaculada os membros leprosos da Lilith fosforescente eram lavados. Íncubos e súcubos uivavam louvores para Hécate, e retardados sem cabeça balbuciavam coisas para a Magna Máter." (Tradução retirada da edição da L&PM Pocket)


Página 19

  •  "(...) o jovem Malone meio delirante." — É mais ou menos assim que começa O Horror em Red Hook.
  • "Por que não passar para o FBI?" — Isso antecipa os eventos de A Sombra Sobre Innsmouth, a sequência onírica de Providence 03 e a história de fundo de O Pátio.
  • No segundo painel temos uma visão das consequências de Vento Frio, mostrando a Srta. Herrero de Providence 01. Essa cena parece acontecer imediatamente após a cena da capa variante "Women" de Providence 01. Enfim, descobrimos que o primeiro nome do Dr. Alvarez era Emilio. HPL escreveu Vento Frio no início de 1926.

  • Obviamente, no terceiro painel, é HPL voltando para Providence em 1926. Observem que a placa com o nome da cidade está parcialmente encoberta, permitindo que se leia "PRUDENCE", o que dá uma dica da motivação de HPL em voltar para sua cidade natal.


Página 20


  • No primeiro painel temos um jovem August William Derleth, que viria a se tornar um proeminente escritor e editor de literatura de fantasia e ficção. Como mencionei em vários outros momentos, Derleth era um dos correspondentes de HPL e contribuiu para os Mitos de Lovecraft. Depois da morte de HPL Derleth e Donald Wandrei fundaram a Arkham House, editora que publicaria a ficção e as cartas de HPL. A mulher à sua esquerda deve ser sua mãe, Rose Louise Volk Derleth.
  • Depois que HPL voltou para Providence em 1926, seu endereço foi mesmo na Rua Barnes, nº10.
  • "Você está certo em concordar com A Colina dos Sonhos em primeiro lugar entre as obras de Machen..." — A Colina dos Sonhos é um romance quase autobiográfico do galês Arthur Machen, de quem falamos antes e cuja obra influenciou muito HPL, em especial O Horror em Red Hook.
  • Pitman é Ronald Underwood Pitman, o análogo de Providence para Richard Upton Pickman que vimos na edição 07. A cena do segundo painel mostra referências do fim de O Modelo de Pickman. HPL escreveu esse conto no fim de 1926.
  • O terceiro painel mostra uma imagem da infância de Randall Carver, o análogo de Providence para o Randolph Carter de HPL, vivendo uma cena de A Chave de Prata, que foi escrita entre 1926 e 1927.
  • No quarto painel temos Howard e Donald Wandrei, irmãos e correspondentes de HPL bem como de outros membros do círculo da Weird Tales. Donald tinha apenas 16 quando começaram suas correspondências. O trecho da carta foi retirado de uma das cartas publicadas em Mysteries of Time and Spirit: The Letters of H. P. Lovecraft and Donald Wandrei.


Página 21

  •  O primeiro painel mostra os penúltimos eventos de O Caso de Charles Dexter Ward, que HPL ambientou em 1928. “ngah’ng ai’y zhro!” é o fim do encantamento em Aklo. A fórmula completa vista na supracitada noveleta de HPL é: “OGTHROD AI’F GEB’L-EE’H YOG-SOTHOTH ’NGAH’NG AI’Y ZHRO.”
  • No segundo painel temos a primeira aparição do Agente Especial do FBI Clyde Tolson e do Diretor do FBI, J. Edgar Hoover.
  • "(...) quem escreveu isso não era viril (...)" — implica que Hoover acha que Black pode ser gay... Considerando que havia rumores fortíssimos sobre a homossexualidade de Hoover, então eu diria que o radar dele está funcionando bem.
  • "(...) a miscigenação... não gosto disso, Clyde." — Misturas "raciais" (detesto esse termo: pra mim quem tem raça é cachorro. Seres Humanos tem, no máximo, etnias.) são um sério tabu nos EUA e foram ilegais em vários estados até a primeira metade do século XX. Hoover tomou os comentários de Black como se estivessem tratando de uma miscigenação mais comum...
  • "(...) talvez até comuna."  — uma suposição de que Black fosse comunista. J. Edgar Hoover era um anti comunista fervoroso.
  • No terceiro painel temos uma visão da morte de Willard Wheatley. À direita, Hank Wantage. Isso reproduz uma cena de O Horror de Dunwich:
    "Acima da cintura, era semi-antropomórfico, embora o peito — onde as patas dilacerantes do cão ainda pousavam  atentamente — tinha a pele reticulada como o couro de um  crocodilo ou jacaré.  As costas eram  malhadas de amarelo e preto e apresentavam  uma certa semelhança com  a pele escamosa de certas cobras. Abaixo da  cintura, contudo, era muito pior , pois aqui toda a semelhança humana desaparecia e a pura fantasia começava. A pele era coberta por uma camada grossa de pelos negros e ásperos, e uma infinidade de compridos tentáculos cinza-esverdeados com  ventosas  vermelhas projetavam-se molemente do abdome. Sua disposição era repugnante e parecia seguir as simetrias de alguma geometria cósmica desconhecida  na Terra ou no sistema solar.  Em cada um dos quadris,  bem  cravejado num  tipo de órbita rosada  e ciliada, encontrava-se o que parecia ser um olho rudimentar; enquanto que, em  vez de um  rabo, em  seu lugar pendia um  tipo de tromba ou palpo com  marcas anulares roxas e com  muitas evidências de ser uma boca ou garganta não desenvolvida. Os membros, exceto por sua pelagem  negra, lembravam grosseiram ente as patas  traseiras de sauros gigantes da Terra pré-histórica e terminavam em  hipotênares com  veias saltadas que não eram nem  cascos nem garras. Quando respirava, o rabo e os tentáculos mudavam  de cor  ritmicamente, como  se obedecendo a algum a causa circulatória normal para o lado não-humano de sua descendência. Nos tentáculos,  isso era observável como  um  aprofundamento do matiz  esverdeado, ao passo que no rabo manifestava-se através da alternância entre seu aspecto amarelado e um  repulsivo branco acinzentado  nos espaços entre os anéis roxos. De sangue verdadeiro, não havia nada; só mesmo o ícor amarelo esverdeado que escorria pelo chão pintado  para além  do alcance daquela viscosidade e deixava uma curiosa descoloração por onde passava." (Trecho da tradução de Lara D’Onofrio Longo, em sua dissertação de mestrado em Letras na UNESP de São José do Rio Preto)
  • A cena do quarto painel mostra uma incursão do FBI contra a comunidade de híbridos de humanos com Abissais, ecoando eventos de A Sombra Sobre Innsmouth. Essa cena foi antevista por Black em um sonho em Providence 03 e também descrita no arquivo do FBI que Aldo Sax recebe em O Pátio. O sujeito com a cabeça ensanguentada à direita parece ser Tobbit Boggs. Segundo HPL esses eventos tomam lugar entre 1927 e 1928.

Página 22
  • Antes de falar da cena e dos demais personagens do segundo quadro, vou me ater à monstruosidade que está à esquerda. Esse é o Sr. John Divine Wheatley. Na imagem comparativa vemos que ele até tem os traços do pai. Confiram aí abaixo:
  • A descrição que HPL faz em O Horror em Dunwich é mais ou menos essa aí mesmo. Só pra constar, o sujeito que percebeu a silhueta do velho Garland ali na gravura, ressaltada em vermelho, foi um comentarista do Facts in the Case of Alan Moore's Providence:
    "—  Mais grande que uma tuia... tudo feito de corda turcida... interim do jeito dum  ovo de galinha mais grande que carqué coisa com mais de dúzia de perna iguar que uns barrir que fechava pela metade quano eles pisava... num tinha nada de sólido, iguar que uma geléia, e feito dumas corda turcida separada que se empurrava junto... uns óio grande e sartado pur tudo lado... umas deiz ou vinte boca ou tromba sartano pra fora de tudo lado, do tamanho duma chaminé de fogão, e tudo mexeno e abrino e fechano... tudo cinza, c’uns tipo de argola azur ou roxa... e pai do céu, aquela mitade de cara lá em riba...!" (Novamente... Trecho da tradução de Lara D’Onofrio Longo).

  • Além de John Divine temos nessa cena, da esquerda para a direita, Hank Wantage (Prov 06), Padre Walter Race e um outro sacerdote, jovem, presumivelmente também da São Anselmo e que parece estar lendo o Alfarrábio de Hali. É provável que ele seja o análogo de Providence para o jovem Dr. Morgan, de O Horror de Dunwich. Race está segurando um pulverizador descrito no mesmo conto, como podemos conferir a seguir:
    "Vi o diário de Wilbur Whateley e li alguns dos estranhos livros antigos que ele costumava ler; e acho que sei o tipo certo de fórmula mágica que devo recitar para fazer com que a coisa despareça. É claro que não se pode ter certeza, mas vale a pena tentar. É invisível — sabia que seria — mas há um pó neste pulverizador de longa distância que pode fazê-lo aparecer por um segundo. Mais tarde vamos experimentá-lo."(Novamente... Trecho da tradução de Lara D’Onofrio Longo).
  • “…O-ogthrod ai’f geb’l…” é um encantamento em Aklo, mas não de O Horror de Dunwich. Esse trecho vem de O Caso de Charles Dexter Ward. Por isso é provável que tenha dado merda...
  • No terceiro painel temos a primeira aparição de Robert E. Howard, criador de Conan O Cimério e muito mais coisa bacana. Nesta apresentação de Burrows ele lembra bastante a representação de Vincent D'Onofrio em Um Amor do Tamanho do Mundo. Essa carta de HPL para ele é datada de 14 de Agosto de 1930. Já falei um monte dele então vão dar uma googada!
  • No quarto painel temos Robert Hayward Barlow e sua mãe, Bernice Barlow. Barlow era um jovem colecionador e correspondente de HPL que veio a se tornar uma autoridade em Náuatle. Era homossexual e HPL começou a se corresponder com Barlow quando este ainda tinha apenas 13 anos, embora Lovecraft não tivesse ciência disso. A carta é datada de 25 de Junho de 1931.

Página 23
  • No primeiro painel, os restos mortais de Brown Jenkin descobertos na cena do fim de Os Sonhos na Casa das Bruxas. No conto isso ocorreu em 1931.
  • No segundo painel, a cena de encerramento de A Coisa na Soleira da Porta, com o equivalente de Edward Derby sendo chamado de "Darby", o que remete, é claro, ao fim de Etienne Roulet/Elspeth Wade, de Providence 06. Este conto foi escrito em 1933.
  • No terceiro painel HPL fala com uma de suas tias. Bloch e Wollheim são, respectivamente, Robert Bloch e Donald A. Wollheim.
  • No quarto painel temos o suicídio de Robert E. Howard. Sua mãe faleceu em 11 de Junho de 1936 e no mesmo dia ele se matou com um tiro na cabeça.

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  • Primeiro quadro: vemos R.H. Barlow de costas enquanto HPL o nomeia seu executor literário em suas "Instruções Para o Caso de Falecimento". Não é sabido quando HPL escreveu isso, mas esse encontro certamente aconteceu quando Barlow foi visitá-lo em Providence entre Julho e Agosto de 1936.
  • Segundo quadro: Howard Phillips Lovecraft morreu de câncer no intestino que, quando descoberto, já avançara o bastante para que pouco se pudesse fazer contra a doença. Lovecraft suportou dores sempre crescentes pelos meses seguintes, até que a 10 de março de 1937 se viu obrigado a internar-se no Hospital Memorial Jane Brown, o mesmo onde seus pais morreram. Ali morreria cinco dias depois. Contava então 46 anos de idade. Howard Phillips Lovecraft foi enterrado no dia 18 de março de 1937, no cemitério Swan Point, em Providence, no jazigo da família Phillips.
  • Quarto quadro: A senhora à porta deve ser Annie Gamwell, tia de HPL e herdeira de sua obra. À frente temos August Derleth e Donald Wandrei, de quem já falamos. Quanto a esse papo entre eles dois... bem, isso é uma longa história que tentarei resumir aqui. Derleth e Wandrei, apesar das boas intenções em ver a obra de HPL publicada, conseguiram garantir o controle efetivo sobre os direitos de publicação com uma mescla de acordos/intimidações com/sobre a Sra. Gamwell, passando por cima da disposição formal do próprio HPL em relação a Barlow ser seu legítimo executor literário. A atitude agressiva de Derleth para controlar o material de HPL bem como em relação a Barlow fez com que sua reputação entre os estudiosos da "vida e obra de HPL" fosse pro vinagre, a despeito de suas valorosas contribuições para os Mitos Lovecraftianos. Quanto ao "Espere até eu falar com Smith!" refere-se a como Derleth detonou Barlow para Clark Ashton Smith, fazendo com que Smith cortasse relações com Barlow em definitivo.

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  • No primeiro painel vemos o início da construção dos domos sobre as grandes cidades. Esse conceito foi visto originalmente em O Rei de Amarelo, e em Neonomicon e O Pátio já são uma realidade. Em Providence 05 surge o primeiro indício de que se planeja algo do tipo.
  • No segundo painel temos Derleth e Wandrei, no que parece ser a sede da Arkham House, com uma caixa de The Outsider and Others (1939), a primeira compilação de histórias de HPL em capa dura. Abaixo, uma imagem mais detalhada da capa, com arte de Virgil Finlay:
 
  • No terceiro painel temos Rheinhart Kleiner e Frank Belknap Long, dois amigos e correspondentes de Lovecraft e de quem já falei antes.. Os três foram membros do Kalem Club de Nova Iorque.
  • "A livraria da rua Grove está pedindo cópias do Necronomicon e do De Vermis Mysteriis, de Ludvig Prinn." — Isso refere-se a um anúncio que saiu na edição de 07 de Julho de 1945 da Publisher's Weekly, uma revista semanal dedicada ao mercado editorial publicada continuamente desde 1872. De Vermis Mysteriis foi escrito por Robert Bloch, embora o título seja de autoria de HPL.
  • "O velho cavalheiro" é uma das alcunhas de HPL.
  • No pano de fundo temos uma contradição: no quadro na parede, a Estátua da Liberdade... e pela janela, as armações e suportes dos domos de proteção.
  • No quarto painel, o sujeito prostrado é R. H. Barlow. Em 11 de Janeiro de 1951 Barlow morreu de uma overdose de pílulas na Cidade do México. Ele estava com medo de ser exposto como homossexual. O camarada à porta provavelmente é William S. Burroughs. Um comentarista acrescentou que ambos estavam na mesma cidade naquela época e é sabido que eles se conheciam, já que foi Barlow quem apresentou a obra de HPL a Burroughs. O texto desse painel foi retirado de uma carta de Burroughs para Allen Ginsberg. Burroughs viria a fazer uso de elementos dos Mitos de Cthulhu em sua ficção, em especial Os Cães de Tíndalos, de Frank Belknap Long.

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  • "Este livro da Mirage Press é tipo um estudo do verdadeiro Necronomicon." — refere-se à edição de 1967 de The Necronomicon: A Study, de Mark Owings, uma baita brochura encadernada.
  •  A capa do disco apoiada no móvel parece ser a do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (que é um ótimo disco, mas ainda prefiro o Rubber Soul), dos Beatles. E não, nenhum desses típicos "alunos de humanas" é Alan Moore, embora ele coubesse perfeitamente entre eles...
  • A Watkin’s Books existe até hoje!
  • O sujeito à esquerda no segundo painel está segurando The Magical Revival (1972), de Kenneth Grant. As citações são retiradas deste livro, onde Grant faz uma tabela comparando o sistema de magia de Aleister Crowley com a ficção de Lovecraft. Essa obra de Grant também fez uma aparição em Neonomicon 02.
  • No terceiro painel temos à direita Lyon Sprague de Camp. Se você não o conhece seu clã será amaldiçoado por toda a eternidade!!! O cartunista Don Simpson, em comentário a um site especializado, ressalta que o sujeito à esquerda, de costas, é provavelmente George Scithers, fundador da Owlswick Press. O resultado dessa conversa foi uma introdução de de Camp para o tal Al Azif, seguido de um texto indecifrável.
  • "Seria uma intervalo nas pesquisas do neurótico incurável..." — Isso se refere a Robert E. Howard. De Camp escreveu as primeiras biografias tanto dele quanto de HPL. Por suas pesquisas e esforços para fazer uma análise psicológica de ambos, de Camp encontrou falhas em seus estilos de escrita e os rotulou como neuróticos. Francamente, eu nunca tive acesso à essas biografias, mas agora que fiquei curioso vou atrás delas.
  • No quarto painel, à esquerda, está Jorge Luis Borges, de quem vocês já devem ter ouvido falar... Ele era um grande fã de HPL. A mulher à direita deve ser Maria Kodama, esposa e assistente pessoal de Borges no fim da vida dele. Nessa época Borges estava totalmente cego e ditava suas obras. Essas citações são do conto Há Mais Coisas (uma homenagem a HPL), de O Livro de Areia (1975). O comentarista Brian J Taulbee tem uma opinião diferente e sólida. Não posso dizer que concordo apenas por conta de não ser um grande conhecedor da obra de Borges. Passo a expor a opinião de Taulbee abaixo:
    "Eu creio que há uma razão específica pela qual Moore incluiu uma aparição de Jorge Luis Borges nesta edição. Borges escreveu um conto curto como tributo a HPL, Há Mais Coisas, mas até aí HPL influenciou muitos autores. Em vez disso, acho que a participação de Borges se deve a outro de seus contos, Tlon, Uqbar, Orbis Tertius (Nesse link tem vários contos de Borges, incluindo este), que explorou o mesmo tema central que o ciclo O Pátio/Neonomicon/Providence está explorando: a influência da linguagem e da crença sobre a realidade.
    Nesse conto uma conspiração com séculos de idade, constituída por eruditos, trabalhou por gerações para completar uma enciclopédia de um mundo totalmente inventado e fictício chamado Tlon (que é em si meramente a fantasiosa ambientação da literatura e da história de uma cidade do Oriente Médio chamada Uqbar, também totalmente fictícia). A principal característica de Tlon é que, enquanto realidade, é completamente mutável, e os habitantes de Tlon não usam substantivos e nem tem conceitos de entidades discretas ou de pontos no tempo. Descreve-se a natureza totalmente mutável dessa realidade como a expressão definitiva da filosofia de idealismo subjetivo de George Berkeley, que questionou se se pode dizer que uma coisa verdadeiramente exista se não pode ser percebida. (Berkeley coloca a presença de um Deus onipotente e onisciente como o estabilizador da realidade, algo que Tlon notadamente não tem)
    O circo pega fogo na história de Borges quando, após a enciclopédia de Tlon ficar completa, as pessoas ao redor do mundo começam a ficar obcecadas com isso. Elas começam a falar nos idiomas de Tlon etc... Eventualmente nossa realidade começa a de fato se dissolver retroativamente e se tornar a própria Tlon, sugerindo que Berkeley estava muito certo em suas assertivas, que é a consciência coletiva humana, não Deus, que mantém a coerência da realidade; uma vez que a humanidade coletivamente decidiu acreditar em outra coisa, a velha ordem desapareceu.
    Soa familiar?
    Eu diria que o ciclo O Pátio/Neonomicon/Providence é em parte um comentário à história de Borges, com uma reviravolta sombriamente divertida. Se os Grande Antigos estão vindo/voltando por causa de nossa crença coletiva neles, então assim como na história de Borges estamos na verdade vivendo num mundo de Berkeley de idealismo subjetivo com a exceção de que nós, não um Deus onisciente, damos coesão a tudo. A Yuggoth por vir, contudo, será a perfeita expressão do idealismo subjetivo, porque terá uma entidade onisciente percebendo e lastreando a toda a realidade: Cthulhu.
    P.S.: Mesmo os idiomas de Tlon são sugestivos junto à trama de Moore. Um exemplo seria “hlor u fang axaxaxas mlo”, que se misturaria com facilidade ao Aklo.

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  • A cena na The Magickal Childe (então conhecido como Warlock Shoppe) no Brooklyn, onde o Schlangekraft Necronomicon foi concebido no fim dos anos 1970. Essa versão do Necronomicon é essencialmente um texto sumério sobre magia com os nomes modificados e muitas das medidas de proteção removidas ou alteradas. O sujeito à esquerda é Herman Slater, que era dono da The Magickal Childe. O da direita é presumivelmente Peter Levenda, o autor dessa versão e de obras subsequentes. Por conta de Levenda usar o pseudônimo "Simon", essa versão do Necronomicon é bem mais conhecida por Simonomicon. Recomendo severamente: JAMAIS CHEGUEM PERTO DESSA PORRA.
  • O Necronomicon de Culp é uma versão produzida como um fanzine pela Ordem Esotérica de Dagon, adquirido por reembolso postal, em Fevereiro de 1976.
  • Quem frequentou a The Magickal Childe garante que o lugar nunca foi tão limpo assim...
  • No terceiro painel temos novamente William S. Burroughs à direita que, de fato, visitou a The Magickal Childe quando a versão do Necronomicon deles estava sendo publicada. Elementos do Schlangekraft Necronomicon (1977), incluindo "Kutulu"aparecem em seu romance Cidades da Noite Vermelha.
  • No quarto painel vê-se agentes da polícia (ou do FBI?). O Simonomicon foi editado em uma encadernação barata pela Avon, depois do que jamais saiu de catálogo. Essa encadernação barata pode ser vista na mão do agente da direita, com o símbolo na capa desenhado por Khem Caigan. O Simonomicon apareceu conectado com dois assassinatos independentes como descrito aqui.

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  • A elaborada capa do Simonomicon foi parte de uma edição especial para o livro.
  • "É falso, mas a galera diz que algumas coisas dele funcionam mesmo." — Verdade, mas vocês não vão querer ver isso funcionar. Alguns ocultistas da atualidade, como os do grupo Warlock Asylum, creem no Simonomicon como um grimoire válido e legítimo. 
  • À direita, primeiro painel, vemos um jovem Leonard Beeks, o proprietário da "lojinha" em Neonomicon.
  • Painel dois: Burroughs morreu em 02 de Agosto de 1997.
  • Um dos comentaristas (Ross) identifica o homem descobrindo o corpo de Burroughs como sendo James Grauerholz, o executor literário de Burroughs.
  • O livro que Burroughs tem sobre o peito é The Starry Wisdom: A Tribute to H.P. Lovecraft (1994), uma coletânea de contos que contém, dentre outros, Wind Die. You Die. We Die. de Burroughs e... a versão original (em prosa) de O Pátio, de Alan Moore! Sim, é uma autorreferência! Hahahahahaha
  • No terceiro painel a cena mostrada mostra o assassinato de Shevawn Geohegan, então com 14 anos, por Glen Mason e seus cúmplices. Em um relato de um dos livros sobre o assunto que saíram na época: "Mason amarrou e amordaçou Shevawn, depois a estrangulou e deixou o corpo em um saco de dormir no porão do cortiço, cercado por pichações de cunho satânico, pentagramas invertidos desenhados em sangue e cadáveres de animais sacrificados. Foi ali que a polícia encontrou seu corpo dois dias depois."

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  • Vários cacarecos e parafernálias da vida real baseados em Cthulhu, como camisas, bottons, ímãs de geladeira, jogos de tabuleiro... todo um aparato de totens modernos para uma entidade que quer se materializar na nossa realidade através da nossa crença coletiva. Moore sabe mesmo ser sinistro...
  • No segundo painel está o diretor do FBI Carl Perlman, o chefe de Aldo Sax em O Pátio. Perlman também aparece em Neonomicon. Este painel precede os eventos de O Pátio, que cobre a caçada pelo "assassino das cabeças e mãos". Esses eventos ocorrem por volta de 2004.
  • Aí eles falam de um monte de coisa que eu já falei...
  • A fotografia na mão de Perlman é a mesma que foi mandada por fax para Aldo Sax.
  • Primeira aparição de Gloria.
  • "(...)só tem este livro de rascunhos..." — o Livro de Banalidades de Robert Black.
  • No terceiro painel temos Aldo Sax, o protagonista de O Pátio (que também aparece em Neonomicon) visitando o número 169 da Rua Clinton, em Red Hook, no Brooklyn. Se você esqueceu o que era este endereço, releia tudo! hahahahahaha
  • Mitzvah é a palavra em iídiche para "mandamento" (como em "Os 10 Mandamentos", saca?), aqui usado com uma conotação irônica. Sax é antissemita e sabe que Perlman é judeu.
  • No quarto painel, depois dos eventos de O Pátio, quando um Sax tesloucado corta a mão de Perlman. Essa imagem se passa imediatamente antes do que se mostra na capa variante New York Comicon para Neonomicon 02.
  •  “…G’Harne yr g’yll gnaii, y’nghai mhhg-gthaa ep uguth…” é Aklo, e uma variação do que Sax balbucia no final de O Pátio.
  • Só pra constar, G’Harne é uma cidade anterior à humanidade, localizada na África, nos Mitos escritos por Brian Lumley.

Página 30
  • Nessa cena temos Carl Perlman (identificado por sua mão protética) e Merril Brears. Essa cena, com o exato diálogo (em inglês, porque a minha tradução pode ter ficado diferente das que vocês viram), é mostrada em Neonomicon 02.
  • O terceiro painel acontece em algum momento entre 2006 e 2007, logo após o fim de Neonomicon. No meio temos a Agente Barstow. O careca à direita aparentemente é o Agente Fuller, visto em Neonomicon 01 e 04. Esse complexo de acolhimento psiquiátrico é onde Aldo Sax e outros três psicopatas com o mesmo distúrbio estão confinados.
  • No quarto painel temos, da esquerda para a direita, Merril Brears, Aldo Sax e provavelmente os outros três malucos que estavam presos por lá. Notem que falta uma mão do guarda morto.

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  • A igreja na tv no primeiro painel é a mesma de O Horror em Red Hook, de HPL, e a que Robert Suydam usou para seus propósitos em Providence 02, e também a que abrigou o Club Zotique em O Pátio e Neonomicon.

  • "... o que cientistas acreditam ser uma forma de plasma ou de raio globular." — É a manifestação de Yog-Sothoth como a Árvore da Vida, conforme vimos em Providence 04.
  • À direita, assistindo o noticiário, mais uma vez Carl Perlman.
  • "... o livro que Carl queria." — Robert Black sonhou em Providence 08, conforme consta do seu Livro de Banalidades, que "(...) um homem de olhar derrotado na meia idade que pode ter uma mão atrofiada ou algo assim, e ele não estava jogando confetes mas ao invés aparentava estar rasgando um livro em pedaços e então jogando as páginas rasgadas na corrente do Merrimack."

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  • A coisa vermelha no chão se alastrando, na minha opinião, é a coisa que veio do espaço com o poliedro escroto.
  • Será que o funcionário que agora atende Black é o mesmo que atendeu Russell? Isso acontece no finzinho de 1919 ou já em 1920.
  • Notem no terceiro painel as referências a um culto quase que inconsciente em louvor a Cthulhu...
  • Outra coisa digna de nota é que as cenas do Jardim de Saída são praticamente iguais às de Providence 01.

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  • Essas criaturas são gárgulas noturnos. Foram idealizadas por HPL por conta de tê-las visto em pesadelos. Elas apareceram da última vez em Providence 08.


Por enquanto é só, pessoal. Qualquer coisa, só usar os comentários. Até a próxima!

8 comentários:

Ed disse...

Eu tenho uma teoria sobre o lance do funcionário da estação de trem com a marca no rosto: provavelmente foi somente usado por Moore para fazer uma "brincadeira" na passagem durante o sonho de Black na terceira edição.
No trecho em análise, lá pela página 20 do gibi, Black sonha estar em um vagão de trem. Não podemos ver o rosto de nenhum dos passageiros, exceto o do funcionário com o rosto marcado.
Isso remete a uma teoria segundo a qual, durante os sonhos, todas as pessoas que vemos são "baseadas" em indivíduos reais com quem nos deparamos no cotidiano. Moore quis brincar com essa ideia nessa edição e usou um sujeito com um rosto marcado pra tornar mais óbvia sua intenção.
Só isso.

Anônimo disse...

A capa Weird Pulp da edição nº 11 pode ser vista em https://www.previewsworld.com/Catalog/SEP161335.
Parabéns pelo trabalho.

Unknown disse...

*A aparição de Yog-Sothoth acredito ser na forma da árvore do conhecimento o oposto da árvore da vida. Geralmente vista como maligna, mas seu estudo ainda é muito obscuro e ninguém tem certeza daonde veio o conhecimento de Sitra Acra, qliphots ou árvore do conhecimento.

A única ligação de Burroughs e Lovecraft que eu conhecia era uma feita pelo próprio Moore, numa edição de Liga Extraordinária tem um conto envolvendo o Allan Quatermain consumindo um tipo de droga que muda a percepção do tempo, escrito por Moore num estilo lovecraftiano usando o método de cut-ups do Burroughs. Legal saber que há mais de uma ligação entre essas duas figuras.

Anônimo disse...
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Skætos disse...

Como diria Jack, vamos por partes...

1. Paulo Eduardo Borborema,
Francamente eu não tenho uma teoria melhor que a sua para o sujeito com a marca no rosto. Eu ainda acho que pode ser mais do que isso, mas não me causaria espanto algum se você estiver certo. Obrigado pela colaboração!

2. Anônimo (29 de Janeiro de 2017, 13:17)
Agradeço imensamente pela colaboração. Eu já atualizei a postagem com a capa que estava faltando. Valeu e continue conosco.

3. Pablo Frade Oliveira
Você provavelmente tem razão. Entretanto, pelos elementos que a galera do facts of Providence tem levantado, eu não me sinto com autoridade moral e cognitiva o bastante para contestar isso. Na próxima ocasião eu vou levantar essa questão por lá pra ver o que aquele bando de malucos obsessivos tem a dizer! Hahahahaha

4. Excluí um comentário de um Anônimo (que obviamente não foi o mesmo que enviou o link para a capa Weird Pulp). O sujeito tem que ser um merda muito desprezível para vir aqui cagar comentários racistas, e mais merda ainda por não ter sangue nas veias o bastante para se identificar. Espero contar com a compreensão de todos com relação à moderação de comentários: opinião qualquer um pode externar, mas ofensas gratuitas e comentários odiosos serão sumariamente excluídos.

Unknown disse...


Apenas uma contribuição e uma duvida: Kenneth Grant escreveu cerca de 9 livros sobre a ligação entre os Mitos de Lovecraft e o ocultismo. A maioria desses livros é confusa, mas acredito que sem duvida Alan Moore baseia boa parte da historia (oculta) de Providence nas teorias de Grant, principalmente quando o assunto é o continuum espaço tempo.

A duvida é em relação ao Simonomicon. Seria ele uma espécie de livro de São Cipriano, um livro tido como realmente amaldiçoado? Não que eu acredite que o LSC o seja realmente mas, o próprio Grant disse que os rituais do Somonomicon tem um fundo de verdade, e como Grant realmente era um cara sinistro, ao contrário de Lovecraft, dá pra se imaginar que alguma coisa DESSE necronomicon funcione. O que seria um epanto, dado o preço do livro e o fato mesmo existir , em versão não oficial, facilmente na net.

Em tempo, não sou admirador de Kenneth Grant ou de Simon, mas de Lovecraft.

Skætos disse...

Então, Doni... o que é fato é que não existe um Necronomicon de Lovecraft. O Simonomicon é sim um grimório. Um que qualquer pessoa com o mínimo de juízo vai manter distância. Realmente o Simonomicon é o que foi falado: um compêndio de feitiços do tempo do rococó só que maldosamente feito para foder definitivamente a vida de qualquer um que se aventurar com ele (e a vida de todos ao redor, acredite) justamente porque ele não tem as barreiras e amarras que deveriam ter quando se lida com entidades de outros planos. Esqueça o Simonomicon.
Outrossim, obrigado pelo feedback e esteja sempre conosco!

Anônimo disse...

Essa mulher na imagem do Borges definitivamente não é a Maria Kodama, deve ser uma redatora outra genérica que colocaram aí pra representar como o Borges não podia escrever sozinho na época. A mulher do desenho é velha, a Kodama na época era um pitéu! Deixou até o cego doente de desejo.